Pular para o conteúdo principal

Liberdade de expressão e o discurso de Gilmar Mendes

 

Hoje serei muito breve, vez que o assunto já não seja novidade, mas consequência do que vimos alertando há tempos.

A Regulação das Redes Sociais e, de tabela, aplicativos de comunicação pela internet, está na mira de uma elite política mundial, cuja elite nacional acompanha pari passu, buscando a toque de caixa eliminar a liberdade. O discurso do Ministro do STF, Gilmar Mendes, num evento do IDP, deixou bem claro este objetivo. O pronunciamento, pelo "cargo" do emissor, não pode ter outra natureza senão a de oficial, revelando os objetivos políticos que a nobre Corte deverá seguir. 

Embora o ministro tenha dito que a necessidade de regulação das redes sociais, em decorrência de embates envolvendo figuras como Elon Musk, e outras das Big Techs em países como França e Austrália, sua premissa inverte a ordem de valores em jogo. Para o nobre ministro, os aspectos essenciais sobre liberdade de expressão estão em segundo plano, o Estado (na verdade aqueles que exercem seu poder) deve ter o poder de decidir o que deve e o que não deve ser falado ou pensado. Abro um parêntese aqui para dizer que isso já atinge a própria imunidade constitucional quanto ao discurso dos parlamentares no Brasil, que já não podem falar nada que fira as inatacáveis pontifícias autoridades, segundo os critérios estabelecidos pela própria Corte. 

A ideia de que um "embate" com uma figura pública justifica uma nova abordagem regulatória é simplista. A ideia de que um "embate" é um motivo para limitar a liberdade é uma falácia de apelo ao "medo" da ruína da democracia (seja lá o que for isso na mente destes finos senhores) para justificar o discurso.

A internet é um espaço de diálogo e contestação, onde as vozes dos cidadãos podem, de fato, se chocar sem que isso signifique necessariamente a necessidade de intervenção estatal. A legislação já tem de sobra e ã disposição dos cidadãos e ao Estado os meios capazes de prevenir e reparar danos. O ativismo judicial, que já se provou escancaradamente existente, é a ferramenta perfeita para impor isso sem precisar de fato de uma lei. 

O problema de muitos desses arautos de um "mundo melhor" (para não dizer todos) é essa tentativa de impedir tudo que possa parecer ruim e tentar criar um "paraíso" de homogeneidade, perfeitamente estável e sem nenhum tipo de tensão segundo concebem seus ideólogos, o que, à evidência, só pode existir mesmo dentro das mentes desses seres que vagam por um universo de fantasias e, é claro, tendo sempre um trono e um palácio para sí enquanto dita as regras para os demais.  Quanto mais homogeneidade se exige, mais força se terá de empregar para suprimir as diferenças da realidade.

Aliás, no Canadá, entidades de defesa formada por juristas sérios, alertam e se manifestam contra um projeto de lei que exigirá que os operadores de serviços regulamentados forneçam aos usuários no Canadá a capacidade de informar sobre o conteúdo considerado "prejudicial". O projeto de lei cria uma nova burocracia para monitorar o discurso online, estabelecendo um regime de notificação e remoção de conteúdo "nocivo". No entanto, não há limite para o tipo de conteúdo que será monitorado, a lei regulamentará "qualquer serviço de mídia social", isso captura qualquer plataforma online onde alguém se comunique com o público. A vigilância da "praça pública digital" pelas autoridades é digna de receber o selo "made in china", porque, segundo os denunciantes (The Democracy Fund), todos os atos de fala sobre qualquer tópico - político, artístico, moral, educacional, sexual, cultural - serão vigiados. Não há exceção à postagem de "conteúdo nocivo" para fins educacionais, artísticos, satíricos, paródicos ou cômicos. Não há exceções para o discurso antifrástico. Literatura, poesia, textos religiosos e comentários sobre os assuntos que contêm discurso supostamente "prejudicial" (ou como se diz por aqui, antidemocrático ou que ameace a continuidade e garantia das instituições) poderão ser suprimidos e seus produtores penalizados.

A experiência demonstra que esse tipo de tentativa frequentemente resulta em repressão. O fim da liberdade de expressão e pensamento não garantirá jamais a segurança ou proteção e nem o desenvolvimento da sociedade, já alertava John Milton, no século XVII. Além disso, a sociedade depende da capacidade de seus cidadãos de tomar decisões de bom grado, expressar-se livremente e possuir propriedades, utilizando-as conforme desejarem. A autonomia dos cidadãos para escolher o que querem saber, quais fontes buscar e como formar suas opiniões sobre informações de diversas naturezas — política, científica, filosófica, religiosa ou outras — é fundamental. Isso inclui o direito de decidir sobre seus corpos sobre as escolhas referentes a tratamentos médicos que queiram se submeter ou não.

O artigo 19 do Marco Civil da Internet, como qualquer outra lei nesse pais, poderá ser vítima mais uma vez de uma eisegese, cujo significado dependerá exclusivamente da vontade do "intérprete". A proposta, anote aí, não será outra senão criar um ambiente em que a censura se torne prática comum, levando provedores a restringir conteúdos excessivamente (no mínimo) para evitar sanções, mesmo na ausência de uma ordem judicial.

O verdadeiro desafio reside em encontrar uma solução para um problema mais básico, que é "o que fazer para parar um locomotiva descontrolada, enquanto a sociedade não percebe que está sendo amarrada aos trilhos".


Fico por aqui.


*Elvis Rossi da Silva. Cristão, pai de família, advogado. Autor de artigos jurídicos, escritor e jornalista independente.

Livros do autor: Circo Do Mundo  , Fábulas para Hoje  , Pensamentos ao Filho  , Contos Para a Infância , Plúrimas  , Aos Amigos que Não Tenho

Telegram: https://t.me/fakingmeter

 ___________ 

FAKING METER baseia-se no princípio da apreciação da discussão sobre cultura e política, um diálogo com verdade e honestidade para com o leitor.  

Você nos ajudará a manter um oásis revigorante num deserto cada vez mais contencioso do discurso moderno?

Por favor, considere fazer uma doação agora.

Entre em nosso Telegram - https://t.me/fakingmeter - e saiba como no post fixado  

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MITOMANIA, SEGURANÇA E ELEIÇÕES

    Voto Universal, Fiscalização do processo eleitoral, Auditoria dos votos, Opiniões, Jornalistas e Livros, proíba qualquer um destes e teremos algo bem diverso de uma democracia.  Certas autoridades do Estado, que deveriam levantar sempre a bandeira da liberdade, vêm aumentando a perseguição e a criminalização da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa e até de pensamento. Expor os riscos ou crimes contra um sistema usado para dar concretude à democracia é um dever cívico . Apenas o criminoso, que não quer ser descoberto, pode argumentar contra esse dever.  O sufrágio é o direito que o cidadão tem de escolher seu representante político (é o voto). Fosse um país sério, mecanismos eletrônicos para exercer o voto seria tema contínuo de discussão.  O sufrágio não pode ter intermediários (mesmo nos sistemas que utilizam o voto indireto, escolhendo-se delegados que depois votarão, o voto direto não deixa de existir no caso da eleição do próprio colegiado e deste para o pre

O TERMÔMETRO NOSSO DE CADA DIA

O TERMÔMETRO NOSSO DE CADA DIA OU A LIBERDADE É NEGOCIÁVEL?     As coisas andam para uma alienação da liberdade sem precedentes, onde a população simplesmente aceita qualquer coisa vinda do estado, ainda que sem lei, sem comprovação de eficácia e sem importar o resultado de tudo.   Para mim isto beira à psicose.   A palavra “saúde pública” parece que tornou-se um Pir Lim Pim Pim moderno. Saúde não é e nem tem como ser separada da “vida real”, quer dizer, na vida real, em sua complexidade, a saúde, a economia, o trabalho e a liberdade fazem parte de um mesmo ‘pacote’ . Não é possível separar esses elementos como se fosse um livro de anatomia onde a ‘pessoa’ é vista em partes; ora, nem preciso dizer que não é uma pessoa no livro, mas apenas a figura que a representa; a pessoal real estaria sem vida se fosse dividida como nas figuras, já não seria mais a pessoa. A vida real também é assim. Não bastassem as máscaras (e não vou ficar falando de microbiologia, virologia, infect

Que resta do ocidente?

Talvez o que vemos hoje seja uma grande piada das Elites mundiais (que governam das sombras), ou a implementação tragicômica de planos diabólicos capazes de criar eventos de proporções mundiais, com resultados mais ou menos direcionados. A exemplo dos EUA ter um presidente como J.B., uma grande piada contra aquilo que restou de sério no bastião do ocidente, ocidente que fora origem e auge dos valores civilizacionais que superaram tudo que se havia vivenciado na história. A derrocada da única democracia que de fato atingiu o nível de, poderíamos dizer, "ter dado certo", só ocorreu por ser baseada em pessoas com elevados valores, senso de dever e amor ao Criador, como já previa Tocqueville. Essa democracia cristã foi, inquestionavelmente, a causa de os EUA ter sido o único país, na complexa modernidade, capaz de manter o mundo num período de relativo equilíbrio contra as forças malignas que buscam a todo custo ascender como dominadoras do mundo livre. Mas aquilo que é a força d