O Brasil não perde tempo, mal surge uma coisa grotesca que, em seguida, vem outra ainda pior, como diz a música da "mosca", do Raul. A distopia tupiniquim se forma a cada dia. Um misto de "O Processo", "1984", "Rebelião dos Bichos", "Fahrenheit 451", "Cântico" e "Casseta e planeta urgente". E vai surgindo sem vergonha de ser feliz (claro que a felicidade é da elite opressora apenas).
A diferença da nossa distopia, das demais que se formam pelo mundo, é que a nossa (podemos até chamar de nossa), vem acrescida de insegurança alimentar, insegurança econômica, insegurança física (60 mil homicídios por ano), insegurança jurídica, desemprego, hiper tributação, inflação, superendividamento do consumidor, endividamento das empresas e corrupção política premiada. Perdão, mas a única coisa perfeita por aqui me parece serem as urnas.
Não bastasse conseguirmos os piores resultados mundiais em educação (sem falar que o antigo ministro da educação, que escrevia cabeçario, agora é nosso ministro da economia), a censura sobre a liberdade de impressão (ou imprensa) finalmente aparece nas penas da Corte mais alta do país. Pelo menos teremos agora como justificar tais resultados.
O Ministro Flávio Dino determinou que sejam retirados trechos de obras jurídicas com conteúdo considerado, por ele e pelo ministério publico, "homofóbico, preconceituoso e discriminatório". Isso por enquanto, é claro; em breve, ordenarão retirar também trecho de obras jurídicas que sejam contrários às doutrinas que os excelentíssimos se filiem no momento. Ao invés de responsabilizar o autor (se é que possível), instaure-se a censura geral, que é muito melhor e mais eficiente. John Milton se revira no túmulo! Mas não é apenas um trecho "preconceituoso" de um livro que se julga, mas a liberdade de ideias, o martírio dos escritores e o homicídio do futuro do pensamento no Brasil (ou daquilo que ainda resta dele).
Depois disso, o que impede uma ordem de retirada de publicações consideradas "atentatórias à democracia e às instituições democráticas"? Muito em breve recorrer de uma decisão da Corte será um atentado contra a dignidade da justiça. Bom os adevogados irem aprendendo uma profissão de verdade.
Na China, pelo menos, voltando ao tema das distopias, existe uma certa expectativa de que ela seja uma superpotência e que venha dominar o mundo, ao menos há um desenvolvimento econômico e tecnológico expressivo, embora na vanguarda da censura e repressão política. Aqui, ao contrário, na nossa distopia, estamos aquém de qualquer desenvolvimento, a não ser o de um eterno bolsa família que poderá ser cancelado se por um azar o miserável comprar um livro perigoso como uma Bíblia. Parece piada. Mas também foram formados de absurdos todos os regimes totalitários.
Mas o que é um livro, os frutos da mente, comparado à permissão de matar o fruto da vida ainda no útero? Cláudio, o imperador que emitiu a lei que permitia soltar flatos em jantares, ao ver que permitimos corruptos serem presidentes, ficaria aliviado ante seu ato, cá entre nós, quase infantil se comparado ao que vem ocorrendo por aqui.
*Elvis Rossi da Silva. Cristão, pai de família, advogado. Autor de artigos jurídicos, escritor e jornalista independente.
Livros do autor: Circo Do Mundo , Fábulas para Hoje , Pensamentos ao Filho , Contos Para a Infância , Plúrimas , Aos Amigos que Não Tenho
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