Lendo 'Terra dos Homens' de Exupery, fui arrebatado por uma imagem que exsurge tão real quanto a vida. Ali, materializa-se das páginas, do gelo das montanhas, um piloto sobrevivente. Nos gélidos cumes e resvalando na morte, caminhava por dias. Buscava manter-se vivo ou, caso morresse, deveria ao menos chegar em um lugar onde o corpo facilmente pudesse ser encontrado pelo bem da amada, uma vez que o desaparecimento impediria que recebesse o prêmio do seguro imediatamente, caindo na penúria.
Ali, o bravo homem, sua memória antes vigorosa, movida pelo amor, passou a definhar-se como o corpo, e a cada parada para um breve alívio, esquecia-se de algo; primeiro uma luva, depois, o relógio, o canivete e, então, a bússola. Relembra o sobrevivente que toda vez que resolvia parar ''eu me empobrecia''.
Nesse ponto parei como se me visse ali. Esse esquecimento que envolvia o desventurado piloto, quantas vezes não nos sobrecaiu? Quando é que não paramos alguma vez a marcha e, envoltos pelo frio mundo, não deixamos algo pelo caminho? Quando foi não nos esquecemos até do próprio motivo da caminhada, a busca da verdade eterna?
E o que salva o piloto do fatídico desfecho? Na história, um passo sobre passo o salva. A consciência do dever humano de saber que tem uma responsabilidade; e como diz o sobrevivente, "o que eu fiz, palavra que nenhum bicho, só um homem, era capaz de fazer"; eis o que movia seus inchados pés, o dever que apenas o homem é capaz de reconhecer.
Sim. O homem é capaz de dar esse passo. É capaz porque tem a consciência da responsabilidade, ainda que por sua própria alma que, no fim, não é sua, é de Deus e a Ele voltará. Quem daria um passo em direção contrária à torrente deste mundo? Num vale de sombra e morte quem diria, senão um homem consciente, "não temerei mal algum, porque Estas comigo?", ou mesmo, "miserável homem que eu sou..."?
Que diante do gélido mármore do mundo, possamos dar cada passo em direção à verdade, movidos por esta consciência de responsabilidade e vergonha diante de toda miséria humana, inclusive a nossa própria.
*Elvis Rossi da Silva. Cristão, pai de família, advogado pós-graduado. Autor de artigos jurídicos, escritor e jornalista independente registrado no MTP.
Livros do autor: Circo Do Mundo , Fábulas para Hoje , Pensamentos ao Filho , Contos Para a Infância , Plúrimas , Aos Amigos que Não Tenho
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