Jonathan Swift escreveu As
Viagens de Gulliver em 1726. É sobre a viagem de um rapaz para alguns lugares
fantásticos, lugares onde o mais variado tipo de gente existia e, entre estas,
os liliputianos, da ilha de Lilliput, muito pequenos, miniaturas de seres
humanos, com aspectos morais tão pequenos quanto sua estatura. A sátira de
Swift parece buscar atingir idéias absurdas que alguns intelectuais colocaram ou
colocavam em circulação mas não apenas, também busca retratar uma realidade,
que a ausência da busca da realidade, da verdade, pode deformar o caráter e
construir um mundo de aberrações morais.
Allan Bloom em “Gigantes e Anões”,
nos ajuda a entender o sentimento e as ações contra quem ultrapassa o inane
cerne deste tipo de gente em miniatura e que só conhece o próprio umbigo. A
avaliação de Bloom quanto à mentalidade dos liliputianos a respeito de Gulliver
parece ter sido especialmente escrita para a questão que levantamos. O nanismo
do pensamento dos liliputianos encontra-se exposto ante a superioridade de
Gulliver, não pelo tamanho deste, mas pela sua elevada moral.
Gulliver é grande demais, as
acusações contra ele são apenas corolários deste fato, e os liliputianos não
podem suportar tamanha grandeza. E o inevitável ocorre, esta sociedade de
homens inanes, sem conteúdo (ou para citar Eliot, esses homens ocos) ou se
submetem à sua grandeza, ou excluem o gigante de sua sociedade. Isto, diz Bloon, “é uma necessidade que
nenhuma conversa ou educação vai eliminar”. As acusações contra o gigante são, simplesmente,
um espelho diante da inanição da alma liliputiana, quer dizer, sua falta de
virtudes reais. Para Bloon, essas acusações podem ser resumidas e traduzidas em
quatro: “1) Gulliver não aceita os
julgamentos dos liliputianos sobre o que é nobre e o que é abjeto”; “2) ele não compartilha dos preconceitos
religiosos da nação e não quer ser inumano
só para preservar o que parece ser um dogma sem sentido”; “3) ele não aceita a distinção entre amigo e inimigo definida pelos
limites da nação.” O que ele vê é uma humanidade comum; e para os liliputianos,
não se pode confiar em alguém “de fora”, muito menos com tamanho poder como o
do gigante; para eles, “todo comportamento de Gulliver é suspeito, e atribuem a
ele as motivações que têm dentro de si ou a superficialidade das coisas que conhecem,
não importando ser este inocente ou não” [aqui
precisamos comentar, é o famoso ‘acuse-os daquilo que você faz ou do que você é’];
4) “Gulliver não está satisfeito em sua
nova casa; ele acha que tem muito a aprender em outros lados... sua lealdade é
discutível; ele tem o gosto duvidoso de estar longe de casa.”.
Basta dizer que Olavo de Carvalho,
fazendo denúncias contra a organização mais perigosa para a democracia
brasileira já imaginada, escondida pela mídia por mais 20 anos, o Foro de São
Paulo, por trazer ao país, além das aulas no seu curso de filosofia e as
críticas tecidas no antigo programa True
Outspeak, por publicar suas obras (tal como ‘o imbecil coletivo’) que
revelaram a verdade por detrás da muralha de mentiras e ocultamentos da
esquerda e expor a falsa intelectualidade nacional, e sem falar na miríade de
obras literárias que até então jamais haviam sido publicadas ou mencionadas em
nosso país (e nem mencionei o célebre debate que teve com o – este sim guru real
de Vladimir Putin – o Filósofo russo Alexandre Dugin que, após o referido,
passou a escrever com outros olhos a questão sobre a Nova Ordem Mundial), basta
dizer então que Olavo de Carvalho foi o
protagonista do rompimento da hegemonia do pensamento esquerdista no Brasil, sendo
o percussor do nascimento da direita
no país, possibilitando a mudança do pensamento político nacional (tamanha a
influência, basta lembrar das manifestações nacionais ocorridas desde 2013 onde
uma miríade de pessoas portavam cartazes, bandeiras e camisetas dizendo ‘Olavo tem Razão’, algo inédito no mundo ao
tratar-se de um filósofo que jamais aspirou ou ocupou qualquer cargo político).
Isto é suficiente para criar não
apenas um exército de inimigos como um dos maiores mecanismos de perseguição e assassinato
de reputação já imaginados contra um cidadão comum que jamais exerceu ou buscou
um cargo ou posição política. Que esquerdistas detestem a verdade e quem exponha
sua maldade ao público é algo fácil de entender, porém, os pseudo-intelectuais
passaram a ser também uma segunda linha de ataque, um exército paralelo, com ódio
contra quem, de fato, passou a vida buscando conhecimento e a verdade das
coisas.
O personagem de Swift, Gulliver,
então, é condenado porque os liliputianos descobrem que seu gosto moral não é igual ao deles (tal como o de Olavo), e a única
solução encontrada pelos miniaturizados homens seria cegar o gigante que, uma vez dominado, seu poder seria usado pelo
reino dos homens ocos. Cego, o gigante seria um instrumento de todos os seus
ardis, seria uma força imbatível, usado para alcançar seus mais obscuros fins.
É evidente que a outra alternativa possível seria que os próprios liliputianos
mudassem sua forma de ser/pensar, onde, apenas assim, Gulliver poderia existir
em seu meio, o que na prática era improvável de acontecer.
Swift entendia muito bem que a
ausência de valores, a farsa dos pseudo-intelectuais, da falsa ciência, era uma
força que não apenas estava se pronunciando na sociedade moderna como, de certa
forma, previa que tais coisas seriam a ruina da sociedade. O que vemos hoje é
essa massa de intelectuais orgânicos (conforme nos revela Flávio Gordon)
buscando degenerar a sociedade e manter um status imutável das coisas, quer
dizer, seu poder de influência. Ir contra este mecanismo é tornar-se,
automaticamente, um inimigo que deve ser destruído (tal qual Olavo sempre fora
alvo).
A questão é que o bom senso não
pode conviver com todos esses desvirtuamentos e excessos, ou imitações de
perfeições de aluguel, ou diante de gente que, mesmo sabendo que está errando,
lhes falta o arrependimento capaz de elevar o homem e fazê-lo voltar à
sobriedade do mundo do real, da verdade.
Temos algo imprescindível
permeando essa história, a verdade, o real, que deixa os farsantes e todos os minúsculos
liliputianos como nus ao confrontarem-se com o gigante moral; mas, ao contrário
do que ocorreu com Adão ao ver-se nu (quer dizer, ter vergonha de seu estado
precário e pecaminoso), esses nossos liliputianos não possuem vergonha da
ignorância, não possuem a vergonha de não viver na realidade, não têm vergonha
de viver na farsa, não possuem a
capacidade de arrependimento e, ao ver alguém, um gigante, que de fato lhes
exponha a nudez, que não pense igual a eles, ou que queira buscar o
conhecimento de outras terras, alguém que apresente risco à sua posição de
proeminência, alguém que apresente risco à sua capacidade de manipular ou
influenciar os rumos da nação, logo vociferam e marcham em direção ao Gigante, e,
segundo Bloom, eles entenderam que jamais
poderão convertê-lo num aliado ou numa força a seu serviço, querendo,
assim, sua destruição.
Eis a diferença entre os inanes morais,
os homúnculos, os liliputianos que jamais sairão de sua posição confortável
para buscar a verdade, ou simplesmente pela ignorância (e esta, como ensinava
Olavo de Carvalho, não repele a maldade, ao contrário) saem para destruir aquele
que se lhes oponha, ainda que seja inocente.
Assim se entende o ódio contra
gigantes como Olavo de Carvalho num mundo de liliputianos, o porquê a morte
deste homem é, tragicamente, tão comemorada entre a turba de aberrações morais.
A morte do Filósofo, Escritor e Professor
Olavo de Carvalho é, além de ser uma triste perda, muito certamente será
sentida por todos os cidadãos de bem que um dia compreenderam seu papel neste
mundo.
Descanse em paz, caríssimo Professor.
*Elvis
Rossi da Silva é cristão, pai de família, advogado militante, escritor e
jornalista independente inscrito no MTP.
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