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A obrigação moral de fazer o que é justo perante a injustiça


"Ao ver que algo não está certo ou justo, você tem a obrigação moral de fazer algo a respeito." — Deputado John Lewis




Deixemos o argumento ad hominen de lado e pensemos nos seguintes fatos.

Aos 7 de março de 1965, cerca de 600 pessoas se uniram e saíram às ruas numa manifestação, marchando da cidade de Selma à Montgomery, EUA. Estas pessoas se uniram por um ideal, a igualdade de votos, nos termos da 15ª Emenda à Constituição.

Neste dia eles foram agredidos e parados pelos policiais enquanto atravessavam a ponte Edmund Pettus, logo na saída de Selma. Muitas pessoas tiveram grave sina. O dia fora chamado de Domingo Sangrento.

Esses cidadãos, motivados por ideal maior que o próprio bem-estar, não desistiram e, liderados por Martin Luther King, voltaram a marchar por quase 90  quilômetros, duas semanas depois.

À medida que avançavam, mais e mais pessoas, movidas pelo espírito de liberdade e de igualdade, uniam-se à marcha. Quando chegaram a Montgomery, já eram aproximadamente 25mil pessoas.

A união e a força de vontade de pôr fim a uma política injusta, deu início a uma das mais importantes mudanças da democracia naquele país, fazendo os políticos da época, estimulados pelo clamor da população, mudarem seu comportamento.

Fora então que, após o clamor dos justos, promulgaram a Lei do Direito ao Voto de 1965.

Naquela primeira marcha do Domingo Sangrento, não havia apenas cidadãos comuns, como tu e eu. Mas um deputado, um homem cuja coragem integrou-se à coragem daqueles que o elegeram, e o impulsionou a dela participar. No mesmo dia este deputado teve, após severa agressão, o crânio fraturado.

Em entrevista, aquele deputado, John Lewis (75 anos à época dela), meio século depois, com brilho nos olhos, declara: "Eu não acho que, como um grupo, nós tínhamos a menor idéia de que nossos pés em marcha teriam um impacto tão grande 50 anos depois."

Eis o exemplo do poder de um povo que, consciente de que existem injustiças acontecendo, não se renderam ao infortúnio nem temeram o futuro, mas sentindo no peito a vida gritando para sair, entenderam que vale a pena lutar para viver livre.

Eis também o dever moral de um político que, não se rendendo ao injusto, une-se ao povo para clamar pela mudança, pelo fim daquilo que aprisiona e destrói uma nação.




*Elvis Rossi da Silva é advogado, escritor e jornalista independente.

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