MÍDIA, A MELHOR ARMA CONTRA OS INIMIGOS DOS DITADORES
"Constrói-se uma reputação ao longo de uma vida. Como uma obra civil, é tijolo por tijolo e, como no jogo dos palitinhos, você vai mexendo, mexendo, sempre com jeito, pois se um sair do lugar desaba tudo, e você tem que reconstruir, recomeçar do zero. Como se trata da honra, pode levar anos ou a vida toda, o que significa que na maioria das vezes não dá para recomeçar. Eu definiria reputação como aquela obra que você constrói com muito carinho e dedicação, durante a maior parte de sua vida, utilizando-se dos melhores acabamentos, para abrigar a sua honra, o seu eu, o seu patrimônio moral. Reputação é a casa da nossa honra, que é a nossa alma. É uma obra que leva anos e, por isso mesmo, se afetada ou desfeita, por acidente, incidente ou qualquer desvio, pode não haver tempo de reconstruir. É um bem que tanto o rico quanto o pobre pode ter. Os materiais da obra são os valores morais, e não patrimoniais, de cada um. A demolição ou assassinato da reputação das pessoas, além de levar o indivíduo à morte moral, o que provoca um profundo abatimento de ordem psicofísica, objetiva tirar, antecipadamente, qualquer credibilidade em eventuais ações ou testemunhos. É uma forma de buscar desacreditar ou descredibilizar atos ou palavras da vítima, oportunizando prévia desculpa para creditar qualquer ação contrária aos interesses da organização, ou de seus membros, a um sentimento de revolta, revanche ou vingança. Trata-se de uma estratégia odiosa, mas que sempre conta com o beneplácito da mídia para ser bem-sucedida. O crime organizado sabe que patrimônio moral não tem seguro e não se guarda em banco! O Estado não protege. Ainda mais quando o agente malfeitor é o próprio Estado. Então, é muito fácil assassinar a reputação de quem lhe traz qualquer tipo de aborrecimento ou empecilho.
"A justiça é vergonhosamente conivente. Hoje se cometem mais ilegalidades que na época da ditadura. Prendem suspeitos e jogam a notícia na mídia (Google), porque não deu tempo para investigar... Antigamente, faziam as provas e depois prendiam."
"E, assim, em efeito cascata, o "pré-conceito", no sentido de "pré-concepção", firmado a respeito de um fato ou de uma pessoa, pode ensejar uma deletéria interpretação viciada e corrosiva, do tipo "quem conta um conto aumenta um ponto", causando prejuízo insanável no resultado final da investigação, na medida em que, em outras palavras, se contaminam com conceitos erroneamente preestabelecidos os demais operadores do Direito, destinatários finais daquela produção, tais como o Ministério Público e a Autoridade Judicial, que passam a raciocinar na mesma toada, qual seja, a da dedução tortuosa, aquela sem alicerce fático. Assim, podem ocorrer erros graves de imputação de fatos criminosos, quando há tendência de subestimar a influência de elementos fáticos e superestimar a influência de elementos pessoais – filtros – ao avaliar a responsabilidade de alguém. Dessa forma, ocorrerão equívocos irreparáveis, a atingir e destruir imagem e reputação de uma ou mais pessoas investigadas – sobretudo quando os próprios investigadores, para corroborar suas teses, buscam de forma tendenciosa, ou até mesmo criminosa, através de vazamentos, por exemplo, raramente apurados como manda o figurino, o descompromissado, sumário e irrecorrível julgamento no tribunal midiático, ou tribunal do Google."
"...os pequenos e médios veículos, com a distribuição de verba publicitária do governo, você controla na base do toma-lá-dá-cá, algo que não exige grande esforço. Essa mídia mediana abria-se, e abre-se ainda, para o governo como uma mala velha, abjetamente escancarada ao que pedissem e venham a pedir. Para puxar o saco, aplaudem até tombo de trapézio sem rede de proteção."
"Aliás, aquela visão romântica de crime organizado que vivia às margens da sociedade, se infiltrando nela, é coisa do passado. Hoje o crime está à sombra da sociedade, ou a sociedade está à margem do crime, é só ver a inversão de valores que vivemos. Ruy Barbosa soube eternizar esse sentimento de frustração ao escrever: "De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto". E assim vai-se construindo a fábrica de demolição de reputações, de adversários, inimigos, ou simplesmente daqueles que, de uma forma ou de outra, atrapalham os interesses da banda que legitimamente chegou ao poder, mas ilegalmente nele quer se perpetuar, ou dele se apoderar ad eternum."
EXTRAÍDO DO LIVRO: Assassinato de reputações, um crime de estado, de Romeu Tuma Junior (aqui).
Você pode até achar que eu fiz uma seleção, uma "garimpagem" no texto e que o autor não se refere a nada disso, que o tema é relacionado a crimes ocorridos no governo Lula envolvendo políticos e integrantes da polícia federal etc. Recomendo, então, que você leia o livro e observe o método usado para assassinar reputações. Aliás, não temo em dizer que a coisa hoje se agravou sobremaneira e que a perseguição e censura pelas Big-Techs é ainda maior.
Também no livro se fala da questão do judiciário que, hoje, encontra quadro totalmente diferente para a infelicidade de todos, mas é outra história para outro momento.
*Elvis Rossi da Silva é advogado e escritor.
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