Pular para o conteúdo principal

AINDA SOBRE PRINCÍPIOS, REALIDADE E CONSEQÜÊNCIAS

 AINDA SOBRE PRINCÍPIOS, REALIDADE E CONSEQÜÊNCIAS

 

 

Falamos há poucos dias sobre a necessidade de princípios para reflexões sóbrias sobre a vida e a conseqüência de sua ausência para a sociedade (veja aqui). Que mundo temos quando a reflexão se baseia na realidade e que mundo temos quando a reflexão já não é profunda, mas formada em ideologias ou ‘’filosofias’’ levianas (senão malignas)? O que nos é revelado é que as ideias têm consequências e a destruição de instituições fortes, de direitos baseados na realidade, acabam por modificar profundamente a vida. Isso, até o século XIX, parecia ser óbvio. 

Veja um exemplo muito breve, porém marcante sobre a questão da propriedade, instituições fortes e sua ausência na sociedade, como é possível prever as consequências de sua ausência. Compare com o que temos hoje em dia.

 

“A constituição da sociedade civil ainda não recebeu o influxo poderoso, que a civilização moderna já tem inoculado em todos os ramos da ciência e da legislação.

 

Essa aparente anomalia do progresso nasce, contudo, de uma causa natural.

 

As instituições civis representam o que o homem tem de mais seu no mundo externo e mais adere à sua personalidade. Representam as tradições da família, o lar paterno, todas essas relíquias da vida privada - sacra, as quais formam uma religião domestica e que vão continuando no futuro os elos morais das gerações.

 

Quantas vezes não subvertem as paixões um Estado, dilacerando as entranhas da pátria e erguendo a anarquia sobre as ruínas do governo. Entretanto, a sociedade civil, um momento submergida pela torrente, surge compacta do seio do cataclisma para continuar a sua marcha firme e regrada. A nacionalidade transformou-se; a cidade sofreu uma mudança em seus foros políticos; mas a individualidade e a família permanecem as mesmas, talvez com algum ligeiro retoque na superfície.

 

Esta majestosa lentidão, com que avança através dos tempos e das revoluções a sociedade civil, a solidez monumental de suas instituições, será, talvez, o corretivo que a onipotente sabedoria pôs ao arrojo da ambição humana. Sem essa formidável barreira, quem sabe a que abismos seriam a cada momento arrastados os povos impelidos na carreira vertiginosa das paixões politicas!"

 

 


Extraído da obra “A propriedade”, de José de Alencar (1829-1877).

 

 

 

Elvis Rossi da Silva é advogado e escritor.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O TERMÔMETRO NOSSO DE CADA DIA

O TERMÔMETRO NOSSO DE CADA DIA OU A LIBERDADE É NEGOCIÁVEL?     As coisas andam para uma alienação da liberdade sem precedentes, onde a população simplesmente aceita qualquer coisa vinda do estado, ainda que sem lei, sem comprovação de eficácia e sem importar o resultado de tudo.   Para mim isto beira à psicose.   A palavra “saúde pública” parece que tornou-se um Pir Lim Pim Pim moderno. Saúde não é e nem tem como ser separada da “vida real”, quer dizer, na vida real, em sua complexidade, a saúde, a economia, o trabalho e a liberdade fazem parte de um mesmo ‘pacote’ . Não é possível separar esses elementos como se fosse um livro de anatomia onde a ‘pessoa’ é vista em partes; ora, nem preciso dizer que não é uma pessoa no livro, mas apenas a figura que a representa; a pessoal real estaria sem vida se fosse dividida como nas figuras, já não seria mais a pessoa. A vida real também é assim. Não bastassem as máscaras (e não vou ficar falando de microbiologia...

FALSA GAFE JURÍDICA E O FUTURO SOMBRIO DO BRASIL

Certas declarações chocariam o mais relapso aluno  primeiranista   de direito ao fazer questionar o significado de liberdade de expressão alicerçado pelos séculos, além de pôr em xeque a aviltada exigência de notável saber jurídico exigido pela Constituição Federal para o exercício de certas funções. Certa autoridade causou “ perplexidade” (para dizer o mínimo) , ao afirmar, em suma, que um criminoso, ao jogar um homem de cima de um viaduto, teria levado ao extremo a liberdade de expressão. Seria risível, não fosse trágico. Para além da mera ignorância, veremos que tal declaração indica um propósito. Porém, vamos por partes. Lembremos antes que a liberdade de expressão está presente em diversas constituições de países livres, além de garantida pelos mais importantes tratados de direitos humanos. Trata-se do direito de manifestar ideias, opiniões, crenças, críticas e visões de mundo sem medo de censura ou punição arbitrária. Esse direito inclui a expressão oral e escrita (e...

Que resta do ocidente?

Talvez o que vemos hoje seja uma grande piada das Elites mundiais (que governam das sombras), ou a implementação tragicômica de planos diabólicos capazes de criar eventos de proporções mundiais, com resultados mais ou menos direcionados. A exemplo dos EUA ter um presidente como J.B., uma grande piada contra aquilo que restou de sério no bastião do ocidente, ocidente que fora origem e auge dos valores civilizacionais que superaram tudo que se havia vivenciado na história. A derrocada da única democracia que de fato atingiu o nível de, poderíamos dizer, "ter dado certo", só ocorreu por ser baseada em pessoas com elevados valores, senso de dever e amor ao Criador, como já previa Tocqueville. Essa democracia cristã foi, inquestionavelmente, a causa de os EUA ter sido o único país, na complexa modernidade, capaz de manter o mundo num período de relativo equilíbrio contra as forças malignas que buscam a todo custo ascender como dominadoras do mundo livre. Mas aquilo que é a força d...