O EUFEMISMO DO DIA A DIA
Figuras de
linguagem não são ruins, é evidente que são ferramentas lingüísticas que ajudam
não só na comunicação de uma ideia, como também para elevar a linguagem, inclusive,
ao nível de arte. Mas quando a linguagem é utilizada como ferramenta de engano,
aí é necessário entender quando é que se está utilizando legitimamente uma figura
de linguagem ou quando é para ocultar o sentido real de algo. Desvendar esse ‘’mistério’’
revela qual é a intensão real do sujeito por trás do discurso.
Não é raro ver-se
o uso de certos recursos lingüísticos como ‘’ferramentas evasivas’’ em busca de
ocultar o que realmente deveria dizer ou abrandar o que se diz para evitar
questionamentos (não estou falando da
mudança do significado das palavras ou neologismos ideologicamente carregados).
O eufemismo, por exemplo, que é uma figura de pensamento que visa utilizar palavras ou expressões mais
brandas e agradáveis, substituindo outras mais chocantes ou
indesejadas (o disfemismo é seu contrário).
Por meio do eufemismo é possível fazer um discurso que ‘’impeça’’ o questionamento
imediato, ou oculte o real significado do que se fala, ou ainda um discurso politicamente
“correto” que não cause atitudes indesejadas no ouvinte, ou mesmo um discurso cheio
de “recados”
(metáforas também são muito utilizadas, inclusive citações irônicas antitéticas contra determinado opositor).
Um meio muito
simples de começar desvelar esse recurso
retórico seria perguntar sempre: o sujeito está falando isso em
relação a quê ou quem, em detrimento de quê ou quem? Qual seria a outra opção?
Vamos a alguns exemplos
de eufemismos que enchem os discursos políticos, jornais etc.:
Discurso: ''O Governo fez um novo investimento''.
Significado real: realizou mais gastos.
Discurso: ''O judiciário ouve a voz do povo nas leis da nação''.Significado real: não precisamos dar ouvidos ao real clamor do povo, somos superiores a isso.Discurso: ‘’Isto é discurso de ódio, de intolerância’’Significado real: não permitimos discordar de nossas idéias.Discurso:''Conseguimos maior celeridade, economia, segurança".Exemplo de frase que não significa nada. Celeridade em relação e em detrimento de quê? Economia de quê, de quanto? Segurança de quem, por quais meios específicos, em detrimento do quê e a que preço? Quais outras possibilidades existiam? Aqui há uma espécie de catacrese, onde o termo é usado num certo sentido '’figurado’', porque o sujeito não quer ou não sabe dizer o real significado de algo.
Um exemplo concreto, claro e atual de uma
espécie de eufemismo, está no pronunciamento do Ministro Luís Roberto Barroso em posse da presidência do TSE, 2020, citando
metaforicamente o termo “ARMAR” usado
pelo Presidente da República recentemente (este quer garantir direito de defesa
à população), a frase tem conotação irônica e antitética também:
"Precisamos armar o povo com educação, cultura e ciência”
Significado real: o povo não deve ter armas.
É um eufemismo com aspectos de catacrese também, tem um certo sentido '’figurado’',
porque o sujeito utiliza os termos de forma vaga e abstrata sem referente
concreto, como meio de dissimular o que realmente quer dizer ou não dizer o que
deveria. O que seria educação? De que tipo? E cultura (qual cultura)? Ciência? Como
se dá a alguém ciência? (Não creio
realmente que ele saiba conceituar ciência). Como, quanto, em detrimento do
quê e de quem? Quem então tem o direito especialíssimo de ter armas ou se defender?
Quando se
avalia discursos que rodam por aí impunemente, especialmente os que assumem forma de “normas” ou "programas" (como, por exemplo a agenda 2030 da ONU), verifica-se que a maioria do que se
diz não diz nada concreto, é mera retórica cheia de figuras de linguagem,
eufemismos, metáforas, metonímia, que nada dizem ou, pior ainda, ocultam o significado real
das coisas. Eis, por isso, a importância dos termos
do discurso para identificar o real pensamento do sujeito.
“As palavras da sua boca eram mais macias do que a manteiga, mas havia guerra no seu coração: as suas palavras eram mais brandas do que o azeite; contudo, eram espadas desembainhadas.” Salmos 55:21
Então toda vez que se ouvir voz açucarada de velhinhas escondidas, cuidado, crianças, pode ser a bruxa na casa de doces chamando para o jantar.
Elvis Rossi.
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