No
reino da jabuticaba, a única vida que tem valor é a dos integrantes do partido
dominante.
A monstruosidade dessa vez surge de mais um ministro, o da Justiça, antigo
ministro do supremo tribunal federal, Ricardo Lewandowski. Embora sua
declaração conflite diretamente com a do outro ministro, o Dias Tofoli (para
quem o extremo da liberdade de expressão é tirar a vida de alguém), nos parece
ainda mais perigosa.
Em
declaração pública, Lewandowski afirma que “não há nenhum direito absoluto,
nem o direito à vida”. A declaração deveria deixar ao menos a comunidade
jurídica de cabelos em pé. Dizer que o direito à vida não é absoluto representa
um risco não apenas à ordem jurídica, se ainda há alguma, mas à própria
essência dos direitos humanos. É a prova acachapante de que o maior valor da sociedade,
avida humana, está sendo relativizado e subvertido a olhos nus.
Este
senhor, mais que sexagenário, sabe muito bem os horrores do morticínio, o
democídio que as revoluções socialistas produziram (veja aqui) e ainda produzem,
superando o número de mortos das duas grandes guerras somadas. Toda essa
matança, com se sabe, foi muito bem fundamentada por políticos revolucionários,
essa estirpe de notáveis sabichões que nega o valor absoluto da vida (a não ser
a deles próprios que a defendem com toda a fúria diante da mais inofensiva velhinha
vestida de verde e amarelo); e para toda essa corja, o direito à vida, consagrado na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre Direitos
Civis e Políticos e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, não passa de uma
sopa de letrinhas cujo significado será dado pelo supremo juiz da ocasião.
A
História nos revela que quando começam a impedir o povo de acessar meios de
defesa, quando buscam censurar a liberdade de expressão, a perseguir opositores
políticos e a relativizar o valor da vida, estamos nos aproximando do extremo
da revolução, as masmorras e as torturas de prisioneiros políticos, seguidas das
execuções capitais.
Sem a preservação da existência física, não há espaço para
qualquer discussão sobre outros direitos, sejam eles civis, políticos, sociais
ou culturais. O genocídio é, por definição, a negação do direito à vida como valor
absoluto, seja de um grupo político, de uma raça, etnia ou nação. Isso quer
dizer que, ao combater e punir o genocídio, a comunidade internacional reforça,
de forma inequívoca, o caráter absoluto do direito à vida, incluindo a vida de
dissidentes políticos (grupo). A gravidade da negação torna-se mais evidente ante
a proibição global do genocídio. A Convenção para a Prevenção e Repressão do
Crime de Genocídio da ONU (1948) não apenas reconhece a vida como um valor
supremo, como prevê punição severa a Estados e indivíduos que o cometem.
Como
sabemos que por aqui nem mesmo notinhas de repúdio serão emitidas por quem
realmente deveria agir, o mínimo que deveria acontecer seriam sanções
diplomáticas ante a potencialidade de o governo atuar contra a vida dos
cidadãos. A negação do caráter absoluto do direito à vida deveria sinalizar à
comunidade internacional que o Brasil já não está disposto a respeitar a vida
de seus cidadãos.
Uma declaração desta vir de um ministro da justiça, ex
ministro da corte suprema, não é um equívoco teórico, é um desvio gritante de
tudo aquilo que a História, o Direito, a política honesta e bom senso podem
invocar. Infelizmente não há palavras suficientes que supram a falta de bom
senso de quem deveria tomar providências práticas e não o faz.
Fico
por aqui (e sim, alguns substantivos foram escritos propositalmente com inicias
minúsculas).
*Elvis Rossi da Silva. Cristão, pai de família, advogado. Autor de artigos jurídicos, escritor e jornalista independente.
Livros do autor: Circo Do Mundo , Fábulas para Hoje , Pensamentos ao Filho , Contos Para a Infância , Plúrimas , Aos Amigos que Não Tenho
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