O QUE ESTÁ HAVENDO DE FATO NA ATUAL SITUAÇÃO DO MUNDO?
QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DISSO?
PARTE 1
Vamos por partes.
Claro que é impossível (ao menos no momento) traçar um panorama de tudo que está acontecendo, são tantas frentes, informações, que acredito (e espero que alguém faça isso) que levará ainda alguns anos para sabermos a amplitude de tudo isso e vermos as consequências.
Entretanto, algumas coisas são evidentes e devemos dar atenção para elas, pois, por serem evidentes, são elas muito importantes para serem deixadas de lado ou consideradas secundárias.
Uma (e é a que tratarei hoje) é a crise social que a segregação forçada está causando.
Segregação? Podem perguntar; sim, pois nomes bonitos não mudam a essência das coisas. Chamar lixo de dejeto não muda seu cheiro. Assim, chamar isolamento não muda a natureza daquilo que é uma real segregação. A crise social que nossa época passa, agora é piorada pela segregação. A crise das relações entre as gerações, a crise de identidade torna-se ainda pior.
A sociedade perde cada vez mais a sua natureza de sociedade, de comunidade, de comunhão; aquilo que já era visível nas escolas (pelo falido sistema escolar mundial ) de enjaulamento - parafraseando Jhon Gatto - de crianças (e de velhos na sociedade em geral), tornou-se algo ainda mais desastroso. A incomunicabilidade gerada pelo "distanciamento" social, agrava a situação. O que era uma ausência de troca de informações, de comunicação entre o passado e futuro (velhos e crianças conversando, se inter-relacionando, aprendendo, dando continuidade à história), agora torna-se ainda pior, a ausência de contato, vem desumanizando, impediindo o calor do toque, da pessoalidade, degradando a humanidade, vem, inclusive, aumentando as castas sociais (quanto às castas, basta ver inúmeros profetas do "#fiqueemcasa" mostrando nas redes sociais uma espécie de snobismo, enquanto grande parcela da sociedade padece, aumentando, inclusive, os excluídos, intocáveis).
O que era ruim, um presente sem passado, mas que ainda desejava um futuro, agora pelo medo também rouba-o e nos joga na dependência de organizações questionáveis (sempre dirigidas por homens questionáveis), de decisões políticas no mínimo questionáveis, julgando que uma fórmula simplista pode solucionar tudo sem se preocupar com a complexidade da vida.
Quem já se achava solitário, apenas um exemplo, imagine agora. Famílias sem contato, velhos abandonados (sem falar daqueles que pensam que ao invés de vítimas, os idosos são instrumentos de disseminação de um agente biológico, por isso, uma ameaça social, e proibir-lhes de sair de casa é a solução, sob pena de prisão).
O que tudo isso mostra é que fomos muito bem treinados em obedecer ordens (e a escola como ela é nos ensinou isso muito bem - Leia Jhon T. Gatto: emburrecimento programado), não importa quão ilógicas, incoerentes ou absurdas sejam as ordens.
Não é apenas o direito de ir e vir, de desenvolvimento econômico, de expressão, de pensamento que está em jogo, mas uma condição, a condição de humano, de humanidade, condição que desenvolveu o que conhecemos por comunidade, a interação, a sinergia, a variedade e a diversidade da vida social, dos contatos humanos sob o risco de ser agora (mais ainda do que antes) uma mera agregação (se permitida e bem regulamentada pelo Estado, claro) praticamente a nível animal, no mínimo utilitarista.
E a igreja? Esta, que deveria talvez ser o ápce dessa arquitectura de humanidade, será que também sucumbiu à segregação? Sucumbiu à ideia de que bits substituem bem em certa medida o contato humano? A igreja que deveria ser a ponte entre abismos, aquela que supriria ou preencherias as lacunas sociais, deste aspecto degenerativo da sociedade, da ausência de humanidade, de comunhão (eclésia) de iguais, mãe, abrigo, será que se calou diante de tamanha desumanização? Será que está realmente pronta a mudar sua liturgia, sua teologia para adequar-se aos ditames da organização da nova humanidade, da nova sociedade, do novo normal?
Como dizia uma professora minha de língua portuguesa do ginásio, fica a "questã".
Segue no próximo artigo...
Elvis Rossi
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